De acordo com a Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia, cerca de um terço da população Portuguesa sofre de intolerância à lactose. A intolerância à lactose é geralmente uma condição permanente, mas também pode ser a consequência temporária de uma infecção ou outra agressão à mucosa intestinal.
A intolerância manifesta-se por desconforto abdominal sobretudo após a ingestão de lacticínios, mas os sintomas podem ser evitados sem recorrer à eliminação dos alimentos lácteos, mantendo toda a riqueza e equilíbrio nutricional.
Onde se encontra a lactose?
Leite e derivados como iogurte, queijo. Os derivados contêm um teor de lactose menor que o leite, variável consoante o seu processamento.
Outros alimentos poderão ser fonte de lactose, por isso, deve sempre confirmar a presença/ ausência de lactose na lista de ingredientes. Estes são alguns exemplos:
- Gelados
- Cereais de pequeno-almoço
- Alimentos ou refeições pré-cozinhados
- Margarina
- Maionese
- Molhos
- Bolachas
- Bolos e doces
- Frutas de conserva
- Batatas fritas comerciais
- Sopas instantâneas
- Enchidos, salames, salsichas industriais
- Xaropes e antibióticos líquidos
- Preparados vitamínicos e minerais
O que é a intolerância à lactose?
A intolerância à lactose refere-se aos sintomas decorrentes da presença de lactose mal digerida no intestino. Para digerirmos a lactose necessitamos de uma enzima – a lactase – que tem a função de dividir a lactose nos seus componentes mais simples (glicose e galactose), permitindo a sua absorção para a corrente sanguínea.
Quando o organismo não produz lactase suficiente (hipolactásia ou deficiência da lactase), a lactose permanece “inteira” no intestino, podendo causar sintomas de desconforto abdominal, como dor, diarreia, náuseas, flatulência e/ou inchaço abdominal.
A deficiência de lactase raramente é total por isso, os que têm uma digestão limitada da lactose podem ou não experienciar os sintomas da intolerância.
Tipos de intolerânica à Lactose
A intolerância à lactose é geralmente uma condição que se adquire ao longo da vida, mas pode ser o resultado temporário de uma infecção ou lesão da mucosa intestinal.
- Intolerância à lactose primária
É uma condição permanente. Esta condição é determinada geneticamente e tem origem na redução da actividade da lactase. Desenvolve-se naturalmente, ao longo do tempo, com a diminuição da produção de lactase desde a infância até à idade adulta. A quantidade de lactose que causa desconforto varia de indivíduo para indivíduo, dependendo da quantidade de lactose consumida, do grau de insuficiência da lactase e da composição nutricional do alimento no qual a lactose é ingerida.
Existem situações muito raras em que a criança nasce já sem a capacidade de produzir lactase, rejeitando o próprio leite materno. As crianças que nascem prematuramente estão mais predispostas a ter deficiência de lactase porque os níveis desta enzima só aumentam a partir do terceiro trimestre de gravidez.
- Intolerância à lactose secundária
É uma condição temporária. A actividade da lactase é reduzida devido a doenças ou lesões que prejudicam a mucosa intestinal (como por exemplo doença celíaca não tratada, doença de Chron, etc.). Quando a doença ou a lesão se cura, a actividade da lactase é recuperada.
A intolerância pode ser permanente se a lesão for irreversível, como acontece no caso de intervenção cirúrgica com ressecção intestinal.
Como é que a intolerância à lactose é diagnosticada?
A intolerância à lactose é difícil de diagnosticar apenas com base nos sintomas. Algumas pessoas podem considerar-se intolerantes à lactose porque têm sintomas digestivos e, na realidade, não o ser. Para o equívoco contribuem outros factores que podem determinar os sintomas, nomeadamente, outras condições clínicas e factores de ordem social e cultural.
Um estudo com 45 pessoas alegadamente intolerantes à lactose e sem outras patologias, sugeriu que os sintomas poderiam ser aprendidos socialmente. Os sujeitos do estudo consumiram leite normal e leite sem lactose alternadamente, em três dias diferentes, sem ter conhecimento do tipo de leite que estavam a beber. Resultou que um terço dos sujeitos declarou sintomas de intolerância com os dois tipos de leite, confirmando que os seus sintomas não podiam ser devidos à lactose e sugerindo que poderiam ser aprendidos socialmente.
Para evitar (auto-)diagnósticos incorrectos e alterações alimentares desnecessárias, é essencial consultar o médico e fazer testes específicos para determinar a intolerância à lactose, que podem ser: biopsia da mucosa intestinal, doseamento do açúcar no sangue ou teste respiratório de hidrogénio, sendo o último o mais utilizado por ser o mais simples e simultaneamente o mais rigoroso.
- Teste respiratório de hidrogénio
Após ingestão de uma bebida com lactose dissolvida, doseia-se o hidrogénio no ar expirado em intervalos regulares. Em condições normais, a quantidade de hidrogénio detectável na respiração é muito pouca, mas quando a lactose não é digerida produzem-se elevados níveis de hidrogénio, devido à fermentação no intestino. O hábito de fumar, alguns alimentos e alguns medicamentos podem interferir com a precisão dos resultados – por esta razão, antes de fazer o teste, o médico deve despistar estes factores confundidores.
Leite: Alergia ou Intolerância?
Intolerância ao leite (lactose) não é o mesmo que alergia ao leite, mas muitas vezes os termos alergia e intolerância são confundidos e utilizados para descrever a mesma situação. É importante saber distingui-los porque têm origens e efeitos diferentes e, consequentemente, requerem cuidados diferentes.
A alergia é uma reacção adversa do organismo que envolve o sistema imunitário; a intolerância é uma reacção adversa do organismo que não envolve o sistema imunitário, sendo a mais comum a intolerância à lactose.
A alergia às proteínas do leite de vaca (PLV) é mais comum na infância, quando o sistema imunitário é imaturo e mais susceptível aos antigénios alimentares. Os sintomas podem ser cólicas, vómitos, diarreia ou obstipação, dermatite atópica, inchaço nos lábios ou pálpebras, nariz entupido, tosse, entre outros. Na presença de qualquer um destes sintomas, consulte o pediatra para obter um diagnóstico seguro e um acompanhamento adequado. O prognóstico a longo prazo da alergia às PLV é positivo, sendo que 80-90% das crianças adquirem naturalmente tolerância às proteínas do leite até aos 5 anos de idade.
Como se trata a intolerância à lactose?
A intolerância à lactose pode ser tratada de forma simples, embora a actividade da lactase não possa ser restituída. Nos casos de deficiência de lactose secundária, a recuperação da actividade da lactase depende do tratamento da causa subjacente.
Os sintomas de intolerância à lactose podem ser eliminados com a redução ou eliminação da ingestão de lactose, consoante o grau de intolerância.